segunda-feira, 8 de abril de 2013

diários e memórias da guerra no Iraque



"Preocupa-me que a maioria das pessoas não perceba a natureza imperdoável da violência da minha experiência nos marines. Se disparar cedo de mais, mato um civil. Hesito, e um marine morre. Não há segundas oportunidades. Matar pessoas é feio, brutal e abrupto. É o fim, e fica connosco a vida inteira.
Não me parece que a maioria das pessoas perceba o que é ver mulheres e crianças a cair mortas de um autocarro porque estavam no lugar errado. 
Não me parece que a maioria das pessoas perceba que quando se dispara sobre alguém essa pessoa não cai para trás. 
Não me parece que a maioria das pessoas perceba que as decisões de disparar ou não são feitas num quarto de segundo com nenhuma informação sobre as consequências catastróficas se será a decisão certa ou errada. 
Não me parece que a maioria das pessoas perceba o aborrecimento que vem a seguir, que o combate são segundos, seguidos de semanas sem fazer nada. 
Não me parece que a maioria das pessoas perceba que são mulheres e homens de 18 anos que estão a fazer a maior parte deste trabalho. 
Não me parece que a maior parte das pessoas perceba que o exército americano é apenas uma máquina e quando se está atrasado a máquina não quer saber. 
E acho que a razão pela qual a maior parte das pessoas não percebe, pelo menos no meu país, é porque há apenas uma pequena parte da população em serviço, o resto não faz ideia, políticos incluídos - a ideia de ir para a guerra não os afecta pessoalmente, alguém o vai fazer e noutro país."
(Tim McLaughlin, tenente dos marines americanos no iraque, in "revista 2 - Público")

A forma como olhamos para a guerra nada tem que ver com a forma de quem a vive. Se para nós as questões de guerra são políticas, para quem está no terreno são de vida ou morte, ou, como diz Tim McLaughlin, "a guerra é morte e imagens do inferno".

12 comentários:

  1. Companheiro, eu vivi e vivo e convivo com gente dessa. Gente que esteve na guerra colonial e ainda hoje não consegue dormir sozinho, gente que a cada barulho estranho se esconde debaixo da cama, gente que ainda hoje sofre de pesadelos e grita desalmadamente que está a ser atacado, etc., etc.
    Entre familiares e amigos, conheço muitos que vivem ainda a guerra e esses são o meu motivo, para além de outros, obviamente, para abominar quem as defende. É que nas guerras há os que morrem, o que é lamentável, mas há os que vão morrendo em sofrimento solitário, aqueles que vieram intactos, com as pernas e com os braços, sem marcas de balas ou granadas, mas que morrem diariamente e fazem sofrer quem com eles convive.
    Uma merda, a guerra!

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    1. Concordo com tudo o que dizes.
      Gostei da forma como este ex-tenente se exprimiu. Por norma, quando aparecem documentários sobre a guerra no iraque, assistimos a pessoas mutiladas a dizerem que querem voltar, a alimentar aquela ideia de país protector do mundo, etc.
      Este gajo falou o que qualquer gajo com coração pensa. Aquilo é uma merda, e quem se fode é sempre o mexilhão.

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  2. Texto comovente.
    Em tempos, conheci um senhor que se escondia debaixo da secretária sempre que ouvia uma porta a bater.
    É claro que teve que ser acompanhado, mas houve traumas que nunca resolveu.
    bji, amigo

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    1. a guerra só faz bem a quem a manda fazer.
      beijo!

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  3. Eu sei do que ele fala, tenho familiares que andaram na guerra da Guiné e sei dos resultados, por alguma razão jovens da década de 60 foram de assalto para França e outros países para fugir ao terror da guerra do Ultramar... a guerra destrói quem vai e destrói quem fica.

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  4. É verdade, mas também há -desgraçadamente - mesmo entre estes que a fazem no terreno quem a aprecie.

    "Só os mortos sabem o fim da guerra" - Platão

    Boa semana, meu amigo

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    1. é verdade, em resposta ao Leão disse isso mesmo. o que é hábito é ver-se ex-combatentes com vontade de regressar.

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  5. Não consigo imaginar a guerra porque ela é inimaginável. Tudo deve der tão profundamente negro e doloroso que ninguém fica incólume...

    Beijos

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    1. eu tb não. Mas gostei do prisma com que estes senhores a olharam.
      Sem moralismos

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  6. Faço minhas as palavras da Malena. Nenhuma Silver star ou Purple num sei das quê justifica o pseudo-heroísmo e o pseudo-orgulho de quem a defende.

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